Herança

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Há dez anos a minha mãe decidiu que eu merecia ficar com a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que era dos meus avós. Tive sempre um enorme fascínio pelos seus 52 volumes, muito bem arrumados nas paredes forradas de livros do escritório-biblioteca do meu avô.
Em adolescente, num tempo estranho em que não havia internet, fui lá várias vezes consultá-la quando fazia trabalhos para a escola, o que, para além de me ajudar a estudar, me fazia sentir importante por já ter idade para precisar de usar aquela sala ultra-arrumada e silenciosa.
Por falta de espaço nas várias casas em que vivi entretanto, ela tem estado em casa da minha mãe, à espera. E agora, finalmente, tenho-a comigo. Perdeu o ar solene que tinha porque agora está no meio das minhas coisas, nesta casa cheia de crianças e confusão, mas para mim continua a ser uma referência e adoro o seu lado anacrónico, que me obriga a ter calma para procurar o que quero nos seus vários milhares de páginas. Tão diferente dos cliques frenéticos com que uso o computador.

7 thoughts on “Herança

  1. Lembro-me bem dessa sala e também lá fui umas vezes consultar livros nos tempos de liceu.

    E sabes do que gosto mesmo? De dicionários, especialmente o Morais (cheio de citações literárias) e o Houaiss de sinónimos e antónimos! :)

  2. Adorei. Foi mesmo um voltar no tempo. Sempre adorei livros, sempre os li, consultei, apreciei a textura das folhas, o cheiro e toda a informação neles contida. Ainda hoje, confesso que pesquiso muito neles e nas velhas enciclopédias que guardo com orgulho. Talvez o faça mais por causa do meu filho de 4 anos que, quando quer saber alguma coisa que eu não sei responder, me diz para ir ver nos livros em vez de no computador. Lindo. Obrigada por esta viagem fantástica.

  3. Chegará um dia em que ninguém mais saberá que livro tem cheiro. Até hoje me recordo do cheirinho do meu primeiro livro. Que vício saudável esse de folhear as amareladas páginas de um velho livro e quantos deles ainda guardarei nas estantes da minha memória com muito carinho. Creio que sei da sua apreciação pela velha coleção de família. Essas coisas ninguém esquece, são memórias visuais e olfativas dos tempos que não voltam mais.
    http://bollog.wordpress.com
    Abraços, José Maria Cavalcanti.

  4. Sabes bem, na tua sensibilidade, escavucar doces lembranças…tenho-as também no passar das folhas, recentemente, de uma coleção chamada aqui de ” Mundo da Criança”, que me acompanhou por uma boa parte dela.

    Uma bela noite(aqui são 15:04h), um abraço apertado em cada criança.

  5. Tão giro! Eu lembro-me de passar tardes a saltar de entrada em entrada, quando aparecia aquele “dedinho” a fazer aquilo que agora é a omnipresente hiperligação.

    Adorava, adorava de paixão as enciclopédias que os meus pais tinham no escritório, por isso quando li este post fiquei encantada por relembrar essas tardes.

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