Da comida

Eu, que sou olhada um pouco de lado por muitas pessoas por ter tantas preocupações com a alimentação, nomeadamente com a alimentação das minhas filhas, estou farta de me esforçar por entender como é possível achar-se normal que as crianças de 2, 3, 4, e 5 anos comam regularmente na escola coisas como tulicreme, leite com chocolate e batatas fritas. E, apesar do esforço, continuo sem entender.

Pior ainda é quando as crianças que têm hábitos mais saudáveis como comer vegetais em todas as refeições, beber leite sem nada acrescentado e saber que os doces são para dias especiais, são vistas pelos adultos como pobres desgraçadinhas por lhes estar a ser negado o melhor da vida. Não está. O melhor da vida não é, não deveria ser, não pode ser estar-se viciado em açúcar, sal e gorduras quase desde que se nasce. Eu, que me sinto cada vez mais um misto de convicção e lirismo (para o bem e para o mal), continuarei, apesar de dar mais trabalho do que comprar chocapic e coca-cola, a promover cá em casa o entusiasmo pela chegada da fruta de Verão e por comer cenouras cruas lavadas no chafariz do jardim.

12 thoughts on “Da comida

  1. Pois eu também tenho dessas doces recordações: lembro-me das gomas frescas e cobertas de açucar (bem diferentes das de agora) da Pastelaria Ideal, que comia a meias com o meu irmão ao Domingo à tarde quando a família ia dar uma voltinha até à Graça, ou de uns sorvetes deliciosos dum quiosque à porta do Castelo de S. Jorge que raramente conseguia comer pq a máquina estava sempre avariada! E, claro, dos pequenos pacotinhos de batatas fritas que a minha Mãe me trazia de vez em quando quando regressava das compras.

    São recordações felizes!

  2. Claro, a questão tem a ver com quantidade e frequência, equilíbrio enfim.
    Não me parece que as crianças que comem batatas fritas todos os dias ou gomas a toda a hora venham a guardar uma “doce” lembrança da infância.
    Pela minha parte, guardo uma recordação especial da emoção com que via abrir a caixa de lata da Rosa, senhora que em S. Pedro de Moel, no final dos anos 50, calcorreava a praia duma ponta à outra, vendendo uns bolos que eu achava deliciosos. A lata era pintada de branco, tinha uns tabuleiros que abriam como gavetas e lá, os bolos, muito arrumadinhos por categorias, mostravam-se no seu esplendor. Era tão difícil escolher!
    É que era impensável comer mais do que um por dia e durante o resto do ano só comia sobremesas em dias de festa. Fruta da época, era obrigatória a todas as refeições e a sucessão das diferentes frutas marcava a sucessão das estações. Lembro-me que, depois dos citrinos do inverno, a primeira fruta a aparecer lá em casa eram as nêsperas e destas guardo a melhor recordação das menos bonitas, com manchas escuras, por serem as mais doces.
    Enfim, memórias doces mas com pouco açucar. Pelo menos por regra. Em Agosto, era férias e as regras eram outras. E isso também lhes dava um encanto especial.

  3. Da infância recordo os rebuçados Dr. Bayard e os S. Brás que o meu avô me dava amiúde, as sombrinhas de chocolate Regina, de pintar os lábios com cigarrinhos de chocolate, as pratadas de cenoura ralada com açúcar amarelo que a minha avó fazia para a minha irmã (eu comia só o açúcar, que isso de cenouras não é comigo!), dos meus avós me darem à vez 20$00 para ir à D. Albertina comprar gomas, dos cartuchos de bombons Rajá que a minha mãe trazia da pastelaria Suiça de cada vez que ia a Lisboa… São doces lembranças que guardo com carinho. Hoje jantei lentilhas, continuo muito longe de ser gorda e no MacDonalds nunca entrei. Filhos não tenho, mas quando, ou se os tiver, não lhes vou negar uma infância doce :)

  4. Que boa ideia essa de mandar um livro para a biblioteca da sala ou da escola, com uma dedicatória, no dia de anos da criança! Pode ser que os pais adiram facilmente e até caprichem na escolha. Para bem de todos!

  5. Partilho as vossas opinioes.
    na minha escola e na escola dos meus filhos mando livros para a biblioteca da sala/escola com dedicatoria em nome dos meus filhos (porque e que temos de celebrar com comida?)
    quanto as gomas, pastilhas, bigmacs e outros tesouros. Nao tenho em casa. Nao compro. Nao estao acessiveis. quando o meu filho foi para uma escola em que leite com chocolate era uma opcao pedia leite simples (que tambem havia)
    mas tendo sido professora de criancas provenientes de familias com preocupacoes tremendas em relacao a alimentacao dos filhos, tenho assistido a comportamentos altamente desviantes.
    Tipo: cc nao come doces em casa, na festa de anos do amigo come ate vomitar.
    Cc que so pode comer hidratos de carbono duas vezes por semana em casa, Qd ha pequeno almoco para as familias na sala, senta-se em frente a cesta do pao e so para qd o cesto esta vazio.

    o equilibrio e fundamental e explicar/compreender as razoes pelas quais limitamos a dieta dos nossos filhos e muito importante.

  6. Felizmente já somos muitas!!! Podemos olhar-nos de frente :)
    É de bradar aos céus a forma como estão a alimentar as nossas crianças, sem fazerem um esforço para praticar aquilo que todos sabemos que é o correcto!
    E depois dizem, e confirma-se, que a taxa de obesidade, nomeadamente a infantil, é uma das maiores da Europa… e o que fazem para contrariar? Dão gomas e refrigerantes, fritos e tulicreme!
    A cenourinha cá em casa, é o acepipe preferido, juntamente com o tremoço, avelãs, passas e tâmaras, o pior é que no outro dia o S. chegado do Infantário, disse-me: “mamã quero uma goma!” e eu disse-lhe, “não sei o que é, quem te deu?”, Foi a P. lá no colégio, eu gosto!”
    A P. é a Educadora com quem ele passa 2 horas por dia, imagine-se se fosse o dia inteiro!

  7. a minha filha não sabia da existencia do mac donalds até a educadora lhe explicar o quanto era maravilhoso. as segundas feiras eram preenchodas com o relato do fim de semana em que a educadora explicava detalhadamente o menu do mac donalds supostamente de uma forma pedagogica para os convencer a comer os palitos de cenouras. eu fiquei parva. furiosa e parva. fui tambem chamada à atenção pelo facto da pobrezinha comer iogurte natural e levar fruta, coitadinha. e sim, sou vista como a maluquinha que tem a mania que a filha é superior ás outras crianças e demasiado boa para se alimentar como elas. como é que alguem pode mandar um bolicao para a escola?? sabiam que ha crianças que não bebem água? no passeio da escola varios meninos levaram imensos pacotes de sumos porque não suportam água…

  8. Uma mania que me irrita profundamente nos infantários é a de levar um saco de goluseimas (de qualidade duvidosa) para cada menino, quando há um aniversário. Eu recuso-me a entrar nessa roda e prefiro oferecer uma prenda para a sala, do que estar a oferecer milhentas guloseimas. O bolo e as pintarolas que o decoram já são suficientes. Logicamente também são olhada de lado. Mas não me importo nada!

  9. De acordo. Totalmente!! Lá por casa também se faz um esforço por incutir bons hábitos alimentares. Mas também sinto que sou um pouco olhada de lado por ser “avessa” a produtos alimentares industriais. E felizmente os meus filhos tem aderido bem às nossas ementas caseiras. A L. já se sente tentada pelos anuncios da televisão mas geralmente, depois de provar desinteressa-se. Uff…De qq modo, descobri que no infantário há quem leve sumo de litro (!!) e batatas fritas para o lanche na praia (o lanche é da responsabilidade dos pais)….claro que a L. ficou maravilhada com o lanche da amiga mas felizmente não me pediu para levar igual.

  10. nao ha comissao de pais? inaceitavel! no meu tempo nao me lembro de comer nada assim na escola, era sopinha todos os dias e pao com manteiga ao lanche!

    continua com as tuas conviccoes!

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